quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Eterno

Morri
Morri e virei eterno
eterno na manchete de jornal
na coluna da revista, no diário matinal
morri e virei estatística
estatística no IBGE
No INE, no IME
e virei fala
fala do governo
do político, do magistrado
do povo, virei santo na fala do entrevistado
virei demônio nos cochichos
virei piada nos cortiços
virei brisa nas lapides do cemitério
fui empresário
fui de bem
sou zé mané
sou eterno nos jornais
no fundo do armazém
eterno na extinta fala do povo
sou eterno, lembrado por mais ninguém

O necessário


Peguei o caderno, a bolsa, o papel
a camiseta, a caderneta e um pedaço do céu.
Peguei a carteira, o celular e o terno
a caneta, a corneta e um pedaço do inferno.
Mas esqueci a alma em casa.

Crise em Pedra

Você já sentiu aquela tristeza subconsciente?
Já sentiu que o orgulho e a honra eram insuficientes?
Você já sentiu a navalha da vergonha fundo no submundo do nosso desespero?
Quando nem a catarse liberta?
Quando a verdade é incerta?
Quando o erro é nato, o pecado exato e o coração fraco?
Quando a gente mente e o coração consente em ser o que não quer?
Ser o que não é.
Prisioneiro de ti, de nós, de mim
quando o fedor é do jasmim.
Crise sobre crise, pedra sobre pedra, colhi todas, fiz um castelo... Um castelo que me azeda