Lembranças do que nunca aconteceu

Lembranças do que nunca aconteceu
lugares que nunca hei de estar
palavras que jamais falei
e que nunca vou falar

Pessoas que já vi
e outras que nem existem
guardo todas aqui
em minha mente, ao tempo resistem

Dialogo inimagináveis
ações gigantescas
amores inegáveis
situações grotescas

Dentro de minha mente
tudo isso existiu
muitas lembranças desejei realmente
mas nenhuma delas existiu

Mal da alma

No fundo de minha alma

andava preocupado

a procura da solução

ou a caça de um mal impregnado

Quando avisto ao longe

um ser nu e descoberto

todo encolhido

com os olhos entre abertos

Exalava um mal cheiro

um semblante meio inferior

não sabia se era fera

ou meu mal interior

Fraco e covarde

terrível e disforme

e tudo que ele trazia

uma dor, uma agonia

E ali atrás um pouco longe

um ser forte, entroncado

vil e malévolo

o mais terrível já encontrado

Um pouco mais ao lado

um ser arrogante e orgulhoso

impunha, comandava e rebaixava

dentre os demais, o mais vaidoso

E a direita um deitado

gordo e maltrapilho

não movia se quer um dedo

sem ação, nem se movia!

Dentre tantos outros

esses são os mais notáveis

de meus males destruidores

que trouxeram tantas dificuldades

Hora de mudar de andar

e aprender com os bons sentimentos

os que me guiam no caminho

e me livram dos tormentos.   

Auto piedade

Perdoem-me pela ignorância
e pela falta de bom senso
perdoem-me pelas hipocrisias
e por as vezes não estar atento

Perdoem-me pelas falhas
pela falta de noção
e por ultimo me perdoem
por eu pedir perdão

Boca calada

A minha alma grita
mas minha boca nada expressa
nem sequer uma palavra
uma sílaba, nem se quer uma virgula
ela expressa apenas uma coisa
um ponto final
o fim de tudo que minha alma gritou
e continua gritando na tentativa de me fazer falar
ó boca tão covarde
porque persistes em se manter calada?
Porque está sempre acuada a espera do amanhã?
Como se já não o bastassem os momentos
vai também desperdiçar todas as oportunidades
que tem escorregado pelos seus dedos?
E continua calada, covardemente em seu canto
a esperá de um milagre, ou impeto que lhe faça falar...

Corra!

Corra, corra, corra!
Corra atrás do tempo
corra sem demora
corra para não chegar
em cima da hora

Corra até cansar
para nunca atingir
corra sem cessar
até deixar de existir
corra, corra, corra!

Corra da família
corra dos valores
corra atrás da vida
em busca de novos amores
Corra, corra, corra!

Corra atrás do emprego
corra atrás de dinheiro
corra para conquistar
da família o desapego
corra, corra, corra!

Corra até cansar
corra até perceber
que o caminho que suas pernas correram
levaram tudo de você

Mato

Quero fugir para o mato
e admirar tua beleza
adentrar em tua calma
e contemplar sua realeza

Quero observar o curso do rio
e me purificar em tuas águas
descansar as suas margens
e me juntar as águas rasas

Quero andar por seus caminhos
caminhar entre a lama e o barro
observar cada passarinho
e cada animal em sua casa

Quero observar as flores
a grama e as árvores
quero sentir os odores
dessa flora abençoada

Auto avaliação

Virando de lado
penso ano após ano
o que tenho feito
e no que continuo errando

Penso nos triunfos
com admiração
e admirado vejo as derrotas
com tristeza, vergonha e indignação

Observo minhas lutas
meus crimes e pecados
minhas covardias
e meus pensamentos depravados

Penso,penso e penso
as vezes me ponho a observar
tão pouco resolvo agir
e tão raramente me ponho a lutar
muitas vezes ando em círculos
me condenando ao mesmo lugar